
Tema da redação do ENEM 2023 já vem sendo trabalhado para a criação de políticas públicas em Guarapuava
08/11/2023
A pesquisa “Guarapuava para Todas”, realizada pela Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, busca entender a realidade das mulheres que vivem no município.
“Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil” foi o tema da redação do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), 2023, realizado no último domingo (05).
A redação faz parte do primeiro dia de prova do exame e o tema é aguardado por debater assuntos implícitos ou pouco debatidos na sociedade cotidiana, além disso, a sua proposta é fazer com que os estudantes proponham ideias para solucionar os problemas sociais. Neste ano, o tema trouxe um assunto que gerou muitos debates nas redes sociais por se tratar de um tópico delicado para muitas mulheres no Brasil, já abordado em pesquisas nacionais.
Segundo o estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre Estatística de Gênero em 2019, as mulheres dedicam quase o dobro de tempo que os homens aos cuidados de pessoas ou afazeres domésticos, sendo 21, 4 horas semanais contra 11 horas. Com a pandemia de Covid-19, esse assunto voltou a ser tema de pesquisas, pois durante o isolamento em 2020, as mulheres retratam mais casos de depressão, ansiedade e estresse, números que quase dobraram chegando a ter um aumento de 80%, segundo pesquisa realizada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
A sobrecarga das mulheres e a economia do cuidado, foram assuntos pesquisados também em Guarapuava pela Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres (SPPM) por meio da “Guarapuava para Todas” em 2022.
A pesquisa “Guarapuava para Todas” tem como objetivo aumentar o conhecimento relacionado à realidade das mulheres que moram em Guarapuava. As suas rotinas e demandas, para que assim possam ser elaboradas políticas públicas junto às mulheres e para as mulheres. O intuito é melhorar a qualidade de vida, tentando diminuir a sobrecarga vinda de trabalhos domésticos e de cuidados que são socialmente e culturalmente designados ao gênero feminino.
Os dados demonstram que mais da metade das famílias das entrevistadas são formadas por quatro ou três pessoas (54,5%), contudo, destas, mais da metade (27,3%) realiza o trabalho doméstico sozinha. Observa-se também que, quando há divisão de tarefas, uma crescente de companheiros e filhos meninos tem se mostrado presente (41,7), o que pode sugerir um processo de mudança cultural em curso.
Em relação a como o companheiro colabora com o trabalho doméstico, 27% disseram ‘pouco’, 17% responderam ‘bastante’, 16% ‘igualmente’, 9% ‘não colaboram’, 1% responderam ‘é ele quem faz todas as atividades domésticas’ e 34% não possuem companheiro.
Observa-se que 27% das mulheres que possuem companheiro responderam que ele ‘colabora pouco’ no trabalho doméstico, isso somando com as mulheres que não possuem companheiros e os companheiros que ‘não colaboram’ (70%). Isso demonstra que, de modo geral, as mulheres ficam com a maior responsabilidade em relação às tarefas domésticas. Contudo, o número de companheiros que colaboram ‘bastante’, ‘igualmente’ ou ‘faz tudo sozinho’, é considerável (34%).
A respeito de que forma o companheiro colabora as respostas foram: lavando louça (19,9%), cozinhando (14,8%), na manutenção da casa (13,4%), varrendo/passando pano (13,3%), educar e cuidar dos filhos (11,1%), lavando roupas (6,4%).
Guarapuava para Todas
A consulta pública foi lançada no dia 8 de março de 2022, Dia Internacional da Mulher e segundo a secretária de Políticas Públicas para as Mulheres, Priscila Schran, surgiu como uma necessidade de entender como era a realidade da economia do cuidado em Guarapuava.
Priscila ainda ressalta que foi a partir de um estudo realizado com a ONG Think Olga, no Laboratório de Exercícios de Futuro, sobre como a responsabilidade das mulheres estaria sendo ainda mais exigida de maneira que está gerando sobrecarga a partir da pandemia, que essa realidade ficou ainda mais evidente.
“Para nós podermos entender como acontece essa dinâmica da economia do cuidado aqui em Guarapuava nós lançamos o ‘Guarapuava para Todas’, porque assim a gente poderia compreender o que mais toma tempo na vida das mulheres, como elas conseguem compartilhar as responsabilidades de dentro de casa, também com os filhos, pessoas idosas e doentes. E, saber como elas acessam a cidade, se elas têm tempo livre, se elas conseguem ter tempo para o descanso, para o exercício físico, enfim, para entender realmente a questão da qualidade de vida das mulheres guarapuavanas”, afirmou a secretária.
No total, 850 mulheres responderam a pesquisa que está alinhada a uma política nacional que está sendo implementada pelo Ministério das Mulheres, justamente para a construção das políticas de cuidado.
“Até março de 2024 essas propostas vão ser construídas pelo Ministério das Mulheres e isso mostra que Guarapuava está bastante alinhada com a dinâmica da construção das políticas para as mulheres no Brasil. Que a gente não está aqui só para fazer enfrentamento a violência, mas sim para construir uma cidade para todas, uma cidade 50-50”, concluiu Priscila.
A Consulta Pública “Guarapuava para Todas” já foi utilizada para pesquisas científicas, a exemplo do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da acadêmica Jéssica Vitória de Lima, do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), sob a orientação da professora Doutora Nayara Cristina Bueno.
Você pode acessar os resultados da Consulta Pública “Guarapuava para Todas” clicando AQUI e a pesquisa acadêmica AQUI.